Pensar a Democracia à Esquerda

Na mesma altura em que a democracia parecia triunfar com o melhor ou, pelo menos, o menos mau de todos os sistemas políticos, assiste-se à génese de uma das suas mais profundas crises.
Acentua-se a descrença nos actuais sistemas de representação, o abstencionismo aumenta e com ele a desconfiança do cidadão comum relativamente à figura do político profissional, demasiadas vezes envolvida em escândalos de corrupção extensivos a todos os quadrantes político-partidários.
A intensificação do claro divórcio eleitor/eleito, representado/representante faz com que as próprias estruturas institucionais da democracia sejam postas em causa por quem se sente desapossado de direitos fundamentais de cidadania por efeito da nefasta acção dos seus «representantes».
A actual crise da democracia adquire dimensão particularmente grave por coincidir hoje com novos e ameaçadores sintomas de gestação no interior do ovo da serpente. Uma nova onda de irracionalidade totalitária ergue-se no horizonte impondo a urgência de repensar os sistemas anti-totalitários de modo a activar uma forte estrutura socio-imunológica impeditiva de novas degenerescências e patologias políticas. É para essa reflexão que o presente volume pretende contribuir.