Anarquistas, Graças a Deus

Anarquistas Graças a Deus,de Zélia Gattai,é um livro de simples e profunda humanidade - mais profunda porque mais simples na sua directa veracidade,colhida da memória com singular pureza.Memórias da infância,vivida numa família de imigrantes italianos am São Paulo (Brasil) pelos anos 20,as evocações de Zélia Ressuscitam uma atmosfera social,definem com finura personagens que tomam corpo de vida,inserem o histórico colectivo na experiência do quotidiano e na naturalidade e frescura da visão pessoal infantil reconstituída.E sempre com simplicidade e pureza,no estilo que é claro e nítido,sem rebusca de efeitos literários,na composição que flui em veio narrativo de evidente espontaneidade,no andamento da acção em que se conjugam como expressões naturalmente existenciais a alegria e a dor.
Gerado no mesmo ambiente familiar em que Jorge Amado tem erguido a sua obra de projecção universal,o livro de Zélia,a sua mulher,é de uma autonomia e originalidade que surpreendem pela ausência absoluta de influências do grande mestre.Está inteira no livro uma personalidade humana e literária que transporta da infância para a maturidade,em translação temporal na escrita,a plenitude da sua vivência e que a comunica com um poder de simpatia aliciante aos leitores de todas as formações e gostos.Com Anarquistas,Graças a Deus nasceu uma nova e genuína escritora para as literaturas de língua portuguesa e não apenas uma memoralista do circunstancial - uma escritora com um estilo e um sentido do humano em literatura que não deixará de se revelar,decerto,em outraas formas de autêntica criação.