Aos quarenta e poucos anos, Luciano adopta uma atitude fundamentalmente céptica, que se insurge contra todo o dogmatismo metafísico e filosófico em geral. É este, justamente, o tema de Hermotimo, o mais extenso, o mais «expositivo» e, consequentemente, o menos dramático e porventura o menos ostensivamente satírico dos diálogos de Luciano.
Dir-se-ia que o autor terá entendido que o assunto era tão sério que se impunha uma certa contenção, isenta dos processos mais cruamente burlescos: rude, mesmo rude, só o golpe final.
Esta seriedade fundamental faz de Hermotimo uma obra-prima do cepticismo antigo, uma obra dum niilismo verdadeiramente perturbador, que não pode deixar indiferente o homem moderno, também ele vacilante, inseguro e vagabundo, entre as certezas totais e o pessimismo iconoclasta.
Ao longo do diálogo, adivinha-se um desenlace trágico, cujo momento Luciano se compraz em retardar. De argumento em argumento, de comparação em comparação, caminhamos inexoravelmente no sentido das certezas iniciais para as dúvidas, e daqui para a conclusão final, expressa pelo próprio recém-convertido ao cepticismo, Hermotimo, com uma força dramática que vai até às lágrimas, prossegue com sentimentos de náusea («Oxalá eu pudesse vomitar essas tretas que lhes ouvi!»)e acaba com uma repulsa firme e lúcida, no exato termo do diálogo: «De hoje em diante, se alguma vez, e contra a minha vontade, ao caminhar na rua, topar com um filósofo, desviar-me-ei, evitá-lo-ei como a um cão danado.»
Hermotimo
Autor(s)
Luciano
6.90€ 3.45€ -50%
Consultar Condições
Editora:
Inquérito
Ano:
1986
Nº Páginas:
140
Peso:
0.100 Kg
Dimensões:
180x155x7 mm
ISBN:
5603121161169
Categoria(s)
História
Adicionar ao Carrinho
Disponibilidade:
Em Stock