Viragem Profética, A

Autor(s) Luís Carmelo

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Editora: Publicações Europa-América
Ano: 2005
Nº Páginas: 200
Peso: 0.280 Kg
Dimensões: 230x155x15 mm
ISBN: 5601072060845
Categoria(s) Religião , Filosofia
Disponibilidade: Em Stock
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Curioso é o facto de, nas profecias estudadas, se fazerem reflectir dialogismos de foro intimamente ibérico, nomeadamente os que se referem, por exemplo, à figura do Encoberto. Surgido na crise valenciana da crise das Germanías (1518-21), transposto para Portugal no final da década seguinte, reencontrado entro os mouriscos aragoneses, também nos anos trinta e na turbulente década de sessenta, a figura salvadora do Encoberto, embora corresponda a uma semantização do género profético muitíssimo mais antiga, é, contudo, um dos objectos imaginários do género literário profético delimitadamente ibérico.Hoje em dia, os actores do profético globalizaram-se e deixaram de ser corpo e voz: não passam de simulacros que aparecem e desaparecem no fluxo global das imagens. Mas suscitam um efeito parecido sobre a experiência e as expectativas concretas. (...) Duas culturas tentando fazer do território e da palavra a chave de um poder que era, em primeiro lugar, um legado do querer divino e uma certeza revelatória específica. A salvação tornava-se a palavra essencial que transformava a vida ou a morte num plano absolutamente secundário. Cinco séculos passados, como vimos, o Ocidente de raiz cristã aprendeu a entender o mundo através de uma compreensão primeira da realidade que deixou de ser tacitamente religiosa. A autonomização de valores nacionais, políticos, jurídicos, éticos e estéticos transformou o Ocidente num espaço público onde, numa primeira fase, os valores pesados comandaram as sociedades à luz de ideias salvíficas de cariz essencialmente laico (sobretudo através das ideologias). Numa segunda fase, quando esses valores deixaram de ordenar e mobilizar as sociabilidades e, por outro lado, quando a hiper-realidade tecnológica passou a reconfigurar a sede renovada da modernidade, a autonomização e a abertura do espaço público ganharam novos contornos de natureza instantanista e global. No entanto, no início do novo milénio, a emergência do fenómeno hiperterrorista veio reatar, de maneira gritante, o velho fantasma da significação do mundo.