As cartas deitadas ao mar, quem é que as recebe? Na serra, o azul a pique. Plantas rasteiras, polvos, braços ansiosos enroscam-se nas rochas esburacadas, ardentes, que se deslocam devagar. Canta o mar, canta o silêncio, quem me ensinará o caminho? A cratera vermelha abre-se no topo da montanha, no coração do dia. São diversos os caminhos. Etelvina, torcendo as mãos, está sentada no cinzento de um lugar vazio, olhando fito para o horizonte que se aproxima; o carreiro certo faz-lhe sinal. Mas, em sentido inverso, vem andando um homem de rosto entrapado. Etelvina avança para o abraçar, o que causa surpresa a João, que não consegue distinguir as feições dela. O braço de mar, para além da parelha já enlaçada, parece metal candente, com zonas mais escuras. Etelvina está agora deitada entre as giestas. O homem ronca ou grunhe, em cima dela, que estremece sob as lançadas de chumbo. João Humberto acorda, alagado em suor e com vómitos. Que absurdo! Totalmente absurdo. E é estranho, não costumo ter sonhos a cores.
Desta Água Beberei
Autor(s)
Urbano Tavares Rodrigues
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Editora:
Publicações Europa-América
Ano:
1986
Nº Páginas:
234
Peso:
0.220 Kg
Dimensões:
210x140x15 mm
ISBN:
5601072032569
Categoria(s)
Autores Portugueses
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Disponibilidade:
Em Stock