Anfitrião

António José da Silva, comediógrafo, poeta e advogado, mais conhecido por o Judeu, nasceu no Rio de Janeiro no seio de uma família de cristãos-novos que tinha procurado no Brasil, tão próximo da influência holandesa, uma vida mais fácil e uma sociedade mais tolerante.
Formou-se em Direito na Universidade de Coimbra em 1726, ano em que a Inquisição o prendeu pela primeira vez. Depois de fazer um protesto de fé católica, foi libertado, não sem que antes tivesse sido sujeito à tortura. Preso pela segunda vez, foi condenado como «hereje, apóstata da nossa santa fé católica, negativo, pertinaz, impenitente e relapso» e queimado a 19 de Outubro de 1739. Tinha apenas 34 anos.
De o Judeu escreveu António Pedro:
«Primo carnal de Goldoni e de Moliére, tão bom como Sheridan ou como Marivaux, que nunca estão ausentes dos palcos de Londres e de Paris, este António José da Silva ter esquecido ao teatro vivo em Portugal prova, por si, quão duvidosa é essa sua vitalidade. Como?
Então uma literatura teatral tão pouco rica como é a nossa, um tal farsante de génio pode não saber-se quem é?»
Anfitrião ou Júpiter e Alcmena, que a Inquérito decidiu incluir na sua colecção de Clássicos, é uma obra que, por ter um tema intemporal e um tratamento verdadeiramente teatral, não perdeu o interesse e continua a constituir, dois séculos e meio depois da estreia, um desafio ao público de qualquer época.